Lendo algumas notícias na semana passada, comecei a refletir um pouco sobre intolerância, em especial, a religiosa.

Primeiro, busquei definir corretamente o termo intolerância religiosa, e cheguei a um artigo muito bem escrito e rico em detalhes, vale a pena a leitura completa. Em resumo, pude definir da seguinte forma: Intolerância religiosa é o desrespeito com a religião alheia, ou mesmo, a ofensa gratuita a ela.

Quando estou em um momento de raiva e assim ofendo alguma pessoa, naquele momento a minha intenção é feri-la de alguma forma, diminuí-la e assim me sentir superior. Eu ofendo para justificar, de forma grotesca, minha constituição imaginaria de poder, penso: "Quem é este ser para afrontar minha ideologia/posição/propriedade?".
É mais fácil. Mais fácil eu dar um soco do que discutir idéias. Mais fácil ainda se este soco for verbal. E é exatamente assim que acontece.

Penso nas muitas contradições que existem no Estado laico em que vivemos. Se o objetivo é propagar uma ideologia (sem entrar no mérito do conteúdo desta ideologia), a história não nos conta que oprimir politicamente o conjunto de ideias opostas a desperta para os olhos revolucionários, e consequentemente, faz os opressores fracassarem em sua revolução? Não é sempre assim?

Concordo em termos com uma declaração que ouvi também na semana passada, de um formador de opinião que se encontra, a algum tempo, em uma crise espiritual; realmente alguns dos que se dizem representantes do cristianismo na política e na sociedade, de fato, têm-se preocupado mais com sua sã doutrina (nem sempre a mesma) do que com valores éticos. E acrescento: temos aplaudido, e assim temos sido intolerantes.

Quando eu digo "temos" não digo nós, os evangélicos, temos sido intolerantes. Quando digo "temos" quero dizer nós os brasileiros temos sido intolerantes, independente da religião ou ausência dela.

Uma das notícias que li era a respeito de um suposto projeto de lei que proibiria o candomblé em Piracicaba/SP. Indo mais a fundo sobre este assunto, verifiquei que realmente existia este PL, correndo na câmara da cidade desde 2010, e que recentemente foi vetado pelo prefeito da cidade.
Este projeto de lei desde o principio me soou estranho. Como se tivesse alguma intensão obscura por trás do fato em si, e penso que realmente exista.
Todo projeto de lei que inicie ou termine com o termo "religioso", pra mim, já possui um intenção obscura. Pois, a partir do momento em que o Estado laico se posiciona a favor ou contra alguma religião, já se contrapõe à ética da Constituição Federal. Sendo assim, se deliberadamente o faz é com alguma intenção obscura, pois sempre o objetivo principal se esconde atrás de algo que pareça correto aos olhos sociedade.

Neste caso em Piracicaba, sou contra a ideia de um projeto de lei que proíbe o uso e o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosas; entrementes, sou a favor das leis que proíbem o uso e o sacrifício de animais, que já existem, e pronto. Na verdade sou contra todo projeto de lei que comece ou termine com religioso por que este não é e nunca será papel do Estado. Tendo em vista esta PL em questão - vetada, o ponto não deveria ser "a religião", mas sim, "os animais". Isto certamente formaria jurisprudência, abriria precedentes para novos atos contra a "religião", seja ela qual for.

Outra notícia que li é a respeito de uma criança evangélica cantando que homossexuais não entraram no céu. Por ser uma verdade cristã ela tem que ser usada como munição em um revolver? E o pior, partindo deste ponto de vista, como esta criança se relacionará com homossexuais na sociedade (bullying por exemplo), e adulta, será que ela daria uma promoção a um homossexual? Ou partiria do principio de que ele não a mereceria por não entrar no céu? Falta habilidade e força de vontade em respeitar as diferença... no mundo.

Todo indivíduo é livre para professar a religião que quiser, ou mesmo, professar a ausência da crença nelas, isso é uma conquista do Brasil, um avanço, e vive sob constante ameaça por intolerância e ignorância.

Na lista de países intolerantes e ignorantes temos a Coréia do Norte, o Afeganistão, que chegam até a queimar evangélicos vivos... independentes de serem evangélicos, é esse ponto que queremos que o Brasil chegue, com quem simplesmente professa sua fé ou ideologia ou sua ausência de fé... livremente?

Não viemos de uma ditadura contra uma ideologia, e não temos conseqüência destes anos até hoje?

Aos que propagam esta ideologia, entendam que não existe uma "ditadura evangélica", assim como não existe uma "ditadura muçulmana", nem "ditadura espírita" e etc. O que existe são aproveitadores que visam lucrar com a miséria humana usando a religião/ideologia que estiver na moda, ou a que for mais amplamente aceita pela sociedade. E caminhando e cantando e seguindo esta canção, todos nós sairemos perdendo.

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